Casa móvel utiliza madeira do espaço e dispensa químicos

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Dizendo que viajar é maravilhoso, mas retornar é ainda melhor

A frase de origem desconhecida, que circula amplamente nas redes sociais, é uma forma perfeita de expressar como muitos viajantes se sentem em relação a suas experiências. Contudo, já imaginou explorar o mundo sem nem precisar sair do aconchego de sua casa? Não, não estamos falando de uma viagem pela internet. Com a popularização das casas móveis, é agora possível viver a diversidade de culturas e cenários, mantendo o conforto familiar. Embora menos comum no Brasil, o estilo de vida nômade, que é uma escolha consciente, está promovendo o crescimento de startups focadas em tiny houses, ou casas pequenas. Um exemplo interessante que foi recentemente destacado na mídia é a Cocoon Freelancer, uma casa maquiada com um material chamado “madeira lunar”.

Além de fornecer um estilo de vida saudável, a Cocoon Freelancer se destaca por uma peculiaridade: sua construção segue uma técnica de manejo sustentável, onde a madeira é retirada em sintonia com os ciclos lunares durante as estações mais frias. O conceito de madeira lunar sugere que a época do ano em que uma árvore é cortada tem impacto na qualidade da madeira. Nesses períodos, a seiva da árvore está em níveis mais baixos e o teor de açúcar diminui, o que ajuda a garantir a durabilidade e resistência do material contra insetos, mofo e deformações.

O escritório Attia Design, sob a direção do designer industrial Maruan Attia, explica que esse método elimina a necessidade de conservantes químicos, melhora a qualidade e a durabilidade da madeira com o tempo e produz resíduos orgânicos totalmente recicláveis. Maruan, natural de Ibiza na Espanha, estabeleceu seu escritório em Munique, na Alemanha. Embora o conceito de madeira lunar não possua validação científica, interessa-se por saber mais sobre essa abordagem inovadora.

Inspiração na arquitetura única

A inspiração de Maruan vem da arquitetura acolhedora das casas de madeira alpinas e dos templos japoneses. Seu trabalho foi influenciado, em grande parte, por uma empresa austríaca que já utilizava madeira lunar em suas construções.

Ele observou que as casas móveis até então disponíveis não eram inspiradoras e apresentavam preocupações de sustentabilidade. Assim, seu objetivo era criar um espaço que oferecesse um nível de conforto superior a qualquer casa ou hotel, superando as limitações de veículos e focando na vida útil. Maruan priorizou a escolha dos materiais, saúde, minimalismo e sustentabilidade ao invés das vans multifuncionais de alta tecnologia.

Em 2021, o designer se uniu à Schreinerei Weidlich, a única especialista capaz de produzir paredes com a espessura e estabilidade necessárias. Essa colaboração rendeu três anos de desenvolvimento intensivo, resultando em um protótipo testado em uma jornada de 9.000 quilômetros pela Europa, que passou por locais como os Alpes Suíços e as praias escondidas de Ibiza. O Cocoon Freelancer demonstrou um conforto climático excepcional, mantendo os interiores frescos no verão e quentes no inverno. O sucesso dessa jornada levou a mais melhorias, com a futura produção se baseando em pinho suíço para um desempenho ainda melhor.

A casa móvel Cocoon Freelancer

Pesando menos de 3,5 toneladas, incluindo veículo e bagagens, o Cocoon Freelancer é projetado para ser facilmente transportável. O modelo, como o nome indica, foi idealizado para freelancers, criativos e nômades que buscam a flexibilidade de uma vida em movimento, permitindo trabalhar e explorar novos lugares sem a necessidade de trocar de residência.

Internamente, a casa se assemelha a uma quitinete, unindo quarto, sala e cozinha em um único espaço. A disposição inclui um móvel que atua como cama e sofá, além de um espaço para armazenamento, uma mesa de trabalho e um fogão embutido em um armário, acompanhado por um sistema de água em aço inoxidável, eliminando o uso de plásticos. Cada aspecto foi cuidadosamente projetado para maximizar a funcionalidade e a eficiência. Vale destacar que, em comparação com outras mini casas, esta não conta com um banheiro.

O escritório Attia Design elenca os benefícios dessa cabine inovadora, como estar livre de COVs (compostos orgânicos voláteis) prejudiciais à saúde, garantindo um ambiente interno mais saudável a longo prazo. Além disso, as paredes feitas de madeira não tratada proporcionam secagem constante, evitando a formação de mofo e melhorando a qualidade do ar. A estrutura também é projetada para bloquear a radiação eletromagnética, o que pode contribuir para um sono mais reparador, embora essa afirmação ainda careça de estudos definitivos.

Protegendo contra as intempéries

A madeira utilizada na construção desenvolve uma pátina cinza ao longo do tempo, oferecendo resistência às condições climáticas e mantendo o núcleo protegido da água e dos raios solares. A combinação inteligente de diferentes tipos de madeira evita a absorção indesejada de água, essencial para garantir a durabilidade da estrutura. A construção cuidadosa garante que não haja parafusos expostos nas superfícies externas, reduzindo o risco de danos e absorção de água.

Entre as características técnicas da casa, destaca-se a presença de telhado com painéis solares, que contribuem para a autonomia energética do espaço. Juntas de dilatação foram integradas para permitir que a madeira se expanda e contraia sem comprometer sua estrutura, mantendo a liberdade de movimento e estabilidade, evitando rachaduras. Cada detalhe, desde a geometria das portas e janelas até o corte adequado da madeira, foi pensado para distribuir as cargas e minimizar estresse, garantindo resistência e estabilidade ao ser transportada.

A seleção rigorosa de materiais e processos de construção já resultou em dois prêmios em 2024: uma Menção Honrosa em Design Arquitetônico – Transporte pelo AMP Architecture MasterPrize e uma Menção Honrosa em Design de Interiores pelo BLT Built Design Awards 2024.

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