Estudo Revela Lucratividade do Discurso de Ódio em Canais Brasileiros no YouTube
Canais do YouTube associados a tendências misóginas têm gerado valores significativos com conteúdo que promove aversão contra mulheres. Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pelo NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificando um aumento notável dessa inclinação na plataforma.
Blogueira Feminista e o Avanço do Ódio Online
A experiência de uma professora e blogueira feminista ilustra a evolução deste fenômeno. Desde a criação de seu blog em 2008, onde aborda temas como feminismo e cultura, ela se viu alvo de comportamentos misóginos na internet. Relatos de sua experiência demonstram como, em pouco tempo, essas interações envenenadas evoluíram em direção a ameaças reais, revelando uma rede já existente que a atacava sem seu conhecimento.
Esse crescimento é um reflexo do aumento do alcance de grupos masculinistas na internet. Inicialmente, essa hostilidade não gerava lucro, mas a recente monetização de vídeos em plataformas digitais tornou o discurso misógino um empreendimento rentável.
Monetização da Misoginia
No Brasil, 137 canais foram identificados divulgando narrativas de ódio contendo misoginia explícita. Com mais de 105 mil vídeos e cerca de 152 mil inscritos, muitos desses canais utilizam estratégias comerciais para lucrar, como anúncios e transmissões ao vivo que aceitam doações.
Uma análise de estratégias monetárias mostra que 80% desses canais adotam alguma forma de comercialização, predominando a exposição de anúncios do YouTube e o uso do Programa de Membros, que permite acessos exclusivos em troca de assinaturas mensais.
Variedade de Estratégias e Lucro Oriundo de Contribuições
Os Super Chats se destacam como uma das soluções mais rentáveis, permitindo que espectadores façam contribuições financeiras durante transmissões ao vivo. Em análises recentes, foram verificadas arrecadações superiores a R$ 68 mil em 257 lives. Além disso, 28% dos canais vendem cursos, produtos e recebem doações por serviços como o Pix.
Tais práticas são criticadas por promover um tipo de “economia da atenção”, focada em conteúdos sensacionalistas que atraem visualizações, gerando receita para criadores de conteúdo e plataformas que os hospedam.
Desafios na Moderação de Conteúdos no YouTube
Embora a plataforma declare proibir materiais incitando a violência ou discriminação, na prática, sua eficácia tem dificuldades evidentes. As estratégias dos produtores para evadir-se da moderação, como o uso de linguagem codificada, complicam o processo de filtragem e remoção desses conteúdos.
Esse cenário é agravado pela indiferença das plataformas, que não aplicam regras coerentes e transparentes para a moderação do conteúdo. A blogueira em destaque neste relato pessoalmente enfrentou desafios quando tentava usar a plataforma, deparando-se com proibições aparentemente injustificadas.
A Realidade Além do Mundo Virtual
Especialistas destacam que a extensão da “machosfera” tem impacto direto nas redes sociais, se transformando em ambiente hostil para mulheres ativas publicamente. Criadoras de conteúdo relatam constante perseguição e reações negativas ao se posicionarem sobre questões femininas.
A pesquisa também revela que conteúdos nesse contexto podem incentivar ou justificar violações de direitos das mulheres. Observou-se que o número de vídeos propagados na machosfera teve um aumento expressivo desde 2022, o que coincide parcialmente com o aumento nos índices de violência de gênero reportados no país.
Esforços para Regulação e Proteção das Mulheres
A luta por uma regulação eficaz se mantém, com esforços contínuos para retirar conteúdos ofensivos e assegurar um ambiente seguro para todos os usuários. Medidas como a Lei Lola, que confere à Polícia Federal o papel de investigar crimes de ódio contra mulheres na internet, ainda enfrentam desafios na execução eficaz.
A solução para este problema não se limita a medidas regulatórias isoladas, necessitando integração com iniciativas diversas em segurança, educação e políticas públicas para um impacto significativo e duradouro.