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Brasil revela entrada em fórum da Opep, o cartel do petróleo

combustíveis fósseis

Brasil se junta ao fórum da Opep em meio a preocupações climáticas

Durante uma nova onda de calor e com alertas da Defesa Civil sobre os riscos associados às chuvas intensas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou na terça-feira (18) que o Brasil agora faz parte da “carta de cooperação” da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Esse fórum de discussão contará com a participação dos países membros da Opep e de seus aliados, conhecidos como Opep+.

A decisão foi divulgada após uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), onde também foi confirmada a adesão do Brasil à Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) e à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena).

Em declarações à imprensa, Silveira destacou que a adesão não impõe obrigações vinculativas ao Brasil, pois se trata apenas de um “fórum de discussão de estratégias entre países produtores de petróleo”. O Brasil é um dos principais produtores de petróleo do mundo. No entanto, para as organizações ambientais, essa adesão representa um retrocesso.

Caminhando na contramão da transição energética

A WWF-Brasil manifestou grande preocupação com a decisão, ressaltando que ela indica que o governo está se alinhando a um modelo obsoleto de desenvolvimento, fundamentado na utilização de combustíveis fósseis, que resulta em emissões de gases de efeito estufa e é uma das principais causas da crise climática.

Ativistas do Greenpeace Brasil protestam contra combustíveis fósseis
Ativistas do Greenpeace Brasil realizam protesto pacífico durante evento do setor de combustíveis fósseis na terça (24), no Rio de Janeiro. Foto: JuChalita | Greenpeace

“Ao decidir ‘explorar petróleo até a última gota’, como o ministro afirmou no ano passado, o Brasil está rejeitando a oportunidade de liderar a nova economia descarbonizada que o colapso climático exige de todas as nações. O foco no petróleo mantém o país atrelado a uma matriz e tecnologias antiquadas que, na próxima década, o farão depender de países que já desenvolveram soluções para energias limpas”, comunicou a WWF em nota.

Suely Araújo, responsável por políticas públicas no Observatório do Clima, concorda que as decisões do Brasil não estão alinhadas à urgência da realidade atual. “Prosseguir abrindo novas áreas para exploração de fósseis enquanto enfrentamos ondas de calor e um aumento de eventos climáticos extremos em todo o mundo demonstra uma postura de negacionismo e sugere que estamos optando por soluções do passado frente aos enormes desafios do presente e do futuro. Aproveitar recursos de plataformas já em operação para financiar a transição energética é uma estratégia lógica. Reforçar o uso de combustíveis fósseis em um cenário onde a demanda precisa urgentemente reduzir é como declarar guerra ao procurar a paz”, argumentou.

Ato na baía do Guajará contra exploração de petróleo
Ato na baía do Guajará, em Belém, contra exploração de petróleo na Amazônia. Foto: Eliseu Pereira

Suely também mencionou a postura do ministério e da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que já declarou que o financiamento da transição energética virá dos lucros do petróleo.

“O Brasil está seguindo por caminhos contrários em um momento em que deveria ser um exemplo a ser seguido, manchando sua credibilidade na COP30. Investir em petróleo é um retrocesso no desenvolvimento inteligente do país. É, na verdade, desperdiçar tempo e recursos em algo que pode ser fatal. Essa decisão é uma surpresa negativa para aqueles que esperam que o Brasil conduza uma transição justa e afastada da exploração de combustíveis fósseis, essencial para a nossa sobrevivência neste planeta”, comentou André Guimarães, diretor-executivo do IPAM.

Entendendo a Carta de Cooperação da Opep

A Carta de Cooperação entre Países Produtores de Petróleo (CoC) serve como um fórum consultivo para as nações da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e seus aliados, a OPEP+. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, esta instância de diálogo é composta por ministros que ocupam cargos nas áreas de Energia e Petróleo. Os países que participam desse fórum realizam reuniões técnicas regulares que abordam diversos temas. O Brasil foi convidado a se integrar à carta de cooperação durante a visita do presidente Lula aos Emirados Árabes, no contexto da COP28.

A adesão do Brasil à Opep não é vinculativa, e, portanto, não requer que o país participe de decisões que, por exemplo, influenciem o corte na produção de petróleo. “A Carta também não limita ou prejudica o direito do Brasil à soberania sobre a exploração e gestão de seus recursos naturais”, esclareceu o ministério.

Ainda assim, a participação do Brasil em um fórum criado pela Opep não é vista como positiva, especialmente porque o governo tem demonstrado sua posição a respeito da exploração de petróleo. Recentemente, o foco foi sobre a pressão sobre o Ibama para liberar a exploração na Foz do Amazonas.

Região da Foz do Amazonas e exploração de petróleo
Região que abrange a exploração na Foz do Amazonas. Imagem: Divulgação

“Em um ano de COP30 no Brasil, em meio a celebrações do décimo aniversário do Acordo de Paris e diante de mais uma severa onda de calor, o Brasil se move na direção oposta ao buscar integrar-se a um grupo que opera como um cartel do petróleo, que almeja sustentar preços lucrativos por meio do controle da oferta. Essa postura compromete a liderança climática do Brasil, um papel fundamental no cenário atual que necessita de tal liderança”, comentou Camila Jardim, especialista em política internacional do Greenpeace Brasil.

“De acordo com a ciência, 2025 é o ano limite em que devemos globalmente alcançar o pico de emissões, e a partir de então, é necessário reduzir essas emissões em aproximadamente 43% até 2030. O Brasil está se unindo a uma economia regredida, cuja continuidade é insustentável. Enquanto se détourna para a exploração de mais petróleo, o país perde a chance de redirecionar seus investimentos e políticas de Estado para aquilo que realmente assegura a segurança energética, desenvolvimento sustentável e prosperidade: investimentos substanciais em energias limpas e renováveis que elevem o Brasil em um novo patamar nas dinâmicas geopolíticas e econômicas globais”, concluiu Camila Jardim.

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Fonte: CicloVivo

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