Pesquisa da UFMG Coleta Bilhões de Mensagens Públicas no Discord
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) obteve mais de 2 bilhões de mensagens públicas de usuários do Discord, plataforma popular entre adolescentes para comunicação por texto, voz e vídeo. A pesquisa, intitulada “Discord Revelado: Um Conjunto Abrangente de Dados de Comunicação Pública”, visa criar um banco de dados útil para futuras pesquisas em ciências sociais, segundo os autores.
Discord e a Reação dos Usuários
O Discord, conhecido por ser um espaço de interação para cerca de 200 milhões de usuários, especialmente jovens, também enfrenta desafios relacionados à segurança. A plataforma tem sido alvo de criminosos que praticam crimes virtuais contra menores de idade, como chantagem e indução à automutilação. Em resposta, o Discord afirma investir em equipes especializadas para combater tais ilegalidades.
A coleta de dados, que utilizou uma funcionalidade própria do Discord, gerou surpresa entre os usuários. Muitos questionaram nas redes sociais a invasão de privacidade e a segurança de suas informações. A empresa declarou que os pesquisadores violaram suas diretrizes de uso ao extrair os dados sem consentimento prévio, mesmo que as informações fossem públicas e acessadas por meio de ferramentas disponibilizadas pela plataforma.
Metodologia do Estudo e Análise de Especialistas
Para a realização do estudo, os pesquisadores utilizaram a API oficial do Discord, que permite acesso a dados de servidores públicos. A plataforma possui a funcionalidade “Discovery”, que possibilita a visualização de mensagens públicas sem a necessidade de participação nos servidores. Após a coleta, os dados passaram por um processo de anonimização, que substituiu nomes reais por pseudônimos para impedir a identificação dos autores das mensagens.
Diogo Cortiz, professor da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) e especialista em tecnologia, analisou o estudo e considera a pesquisa legítima. Segundo ele, a UFMG utilizou uma ferramenta oficial e seguiu os termos de uso, tornando o projeto eticamente adequado. Cortiz ainda argumenta que a reação do Discord pode ser uma tentativa de justificar lacunas na segurança da plataforma.
O Debate sobre Coleta de Dados Públicos
A discussão sobre a coleta de dados públicos em plataformas digitais não é nova. Cortiz destaca que, mesmo que uma plataforma ofereça acesso a informações públicas, não significa que qualquer pessoa esteja autorizada a coletar esses dados indiscriminadamente. O especialista compara a situação com o uso de APIs em redes sociais como o antigo Twitter, que exigia o cumprimento de uma série de requisitos para a extração de dados.
O Discord, por sua vez, reforçou em comunicado que a extração de dados sem consentimento escrito constitui uma violação de seus termos de serviço, e que a empresa está investigando o incidente com seriedade para proteger a privacidade de seus usuários.
O Futuro da Pesquisa em Plataformas Digitais
Este estudo da UFMG levanta questões importantes sobre os limites da pesquisa em plataformas digitais e a necessidade de políticas claras que regulamentem o acesso a dados públicos. Enquanto pesquisadores buscam maneiras de explorar essas informações para compreender comportamentos sociais, as plataformas devem garantir que a integridade e a privacidade dos usuários sejam preservadas.
O caso destaca a importância de um equilíbrio entre o avanço científico e a proteção dos direitos dos indivíduos em ambientes digitais, um desafio crescente na era da informação.