Curitiba demonstra potencial das bicicletas na redução de emissões de carbono e no uso do transporte público
A pesquisa realizada por especialistas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) revelou que as bicicletas têm potencial significativo para diminuir o uso do transporte público em Curitiba, impactando diretamente na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). No Brasil, o setor de transporte é um dos três maiores emissores de GEE, responsável por 16% das emissões em 2022, conforme o relatório Net Zero Readiness Report 2023 da consultoria KPMG.
Bicicletas como alternativa sustentável
Considerando o cenário de mudanças climáticas, estratégias para reduzir as emissões poluentes se tornam urgentes. Luis André Fumagalli, pós-doutor em Gestão Urbana pela PUCPR, destaca que as bicicletas, com apoio de políticas públicas, oferecem uma alternativa econômica e ambientalmente viável ao transporte coletivo. Pesquisa conduzida na cidade de Curitiba aponta que cada nova bicicleta em circulação pode substituir até 52 passagens de ônibus por mês.
O estudo ainda revela que aumentos no preço dos combustíveis e das tarifas de transporte coletivo influenciam diretamente no número de ciclistas. A cada R$ 0,10 de aumento nas tarifas, observou-se um incremento de 1.068 bicicletas nas ruas. Da mesma forma, um quilômetro adicional de ciclovia resulta na introdução de 333 novas bicicletas em circulação.
Impacto no sistema de transporte público
Os dados coletados pelos pesquisadores indicam que os usuários que migram do ônibus para a bicicleta dificilmente retornam ao transporte público, exceto em condições climáticas extremas, como chuvas intensas ou temperaturas extremas. Ao longo de uma década, de 2010 a 2019, as análises evidenciaram que a introdução de novos modais, como carros e motocicletas, também afeta a demanda por transporte público, mas em menor escala quando comparado às bicicletas.
Fumagalli comenta que a administração de Curitiba, mesmo que não intencionalmente, tem favorecido o crescimento do uso de bicicletas ao investir em infraestrutura cicloviária e em serviços de compartilhamento de bicicletas, além de implantar bicicletários no centro da cidade. Isso vem contribuindo para uma queda gradual no número de passageiros do sistema de transporte coletivo, consequentemente elevando o preço das passagens e afetando principalmente aqueles que não têm outras opções de locomoção.
Desafios para a segurança dos ciclistas
Apesar do sucesso de Curitiba em fomentar o uso de bicicletas, muitas cidades brasileiras ainda enfrentam desafios para promover o transporte ativo de forma segura. Um levantamento realizado pela Tembici destacou que 36% dos ciclistas consideram a segurança no trânsito o principal obstáculo para pedalar mais. Entre as mulheres, esse percentual sobe para 40%, enquanto entre os homens é de 33%.
Thiago Boufelli, Diretor de Operações da Tembici, afirma que compreender os desafios dos ciclistas é fundamental para o desenvolvimento de políticas que promovam a ciclomobilidade. Ele destaca que o investimento em infraestrutura e medidas de segurança para ciclistas são passos essenciais para transformar a mobilidade urbana e incentivar o uso de bicicletas.
O estudo “Patronage loss and bicycles: factors influencing mode transition from a strategic digital city perspective” foi publicado na revista científica Journal of Infrastructure, Policy and Development, trazendo à tona a importância de se repensar as estratégias de transporte urbano em busca de sustentabilidade e eficiência.
A experiência de Curitiba pode servir de exemplo para outras cidades brasileiras interessadas em adotar soluções de mobilidade mais verdes e acessíveis, contribuindo significativamente para a redução das emissões de GEE e promovendo um ambiente urbano mais sustentável.
Fonte da Notícia: https://ciclovivo.com.br/arq-urb/mobilidade/uma-bicicleta-retira-passageiros-por-mes-transporte-publico/