Universidade é erguida com muros de barro e taipa

As edificações do Instituto Ruanda para Agricultura de Conservação (RICA) foram concebidas utilizando paredes de terra e taipa, demonstrando que a bioconstrução pode viabilizar a criação de grandes estruturas com materiais naturais e locais, propiciando uma construção sustentável e ecologicamente responsável.

Por todo o campus, a estrutura foi erguida com blocos de terra compactada e taipa, feitos a partir do solo removido do próprio local, misturado com uma pequena quantidade de cimento, especialmente formulado para suportar abalos sísmicos. Entre as diferentes construções, destaca-se um edifício com formato octogonal, parte do conjunto projetado por um estúdio de arquitetura dos EUA, o MASS Design Group.

Chris Hardy, diretor de design do MASS Design Group, explicou que o contorno arquitetônico é inspirado na tradicional arquitetura de Ruanda e nos distintivos campos de irrigação. As dimensões dos dois círculos foram determinadas pela combinação ideal do espaço disponível para os dormitórios e os móveis, visando minimizar o desperdício de blocos de terra compactada e atender ao número total de estudantes que precisam ser acomodados.

Este prédio residencial está situado na vila de Gashora e é parte de uma universidade independente voltada para a agricultura, que possui diversos edifícios educacionais, incluindo um com telhado em formato de zigue-zague. O desenvolvimento foi realizado pelo escritório do MASS Design Group, na capital ruandesa, Kigali, que priorizou o uso de materiais locais e de baixo carbono.

A proposta é que as edificação do campus sirvam como um exemplo de uso sustentável da terra na construção civil, com o objetivo de recuperar e preservar a ecologia da região. “Através de um design moderno, materiais ecoeficientes e energia autossuficiente, o RICA estabelece um novo parâmetro de gestão ambiental”, comentou Chris Hardy.

O projeto ambiciona utilizar os edifícios como um modelo de prática sustentável na construção civil, com intuito de proteger e restaurar a biodiversidade local. “O RICA se destaca como um ecossistema biodiverso, construído sobre um plano rigoroso de restauração de espécies nativas”, continuou Hardy. “Desde florestas de savana até pântanos com vegetação de papiro, o design do RICA harmoniza-se perfeitamente com a natureza, incorporando técnicas de resfriamento passivo e utilizando materiais locais como taipa e madeira.”

O MASS Design Group trabalhou em cooperação com o RICA para elaborar cinco edificação voltadas para a educação agrícola. Entre as outras características marcantes da universidade, encontra-se o centro do campus, um edifício em forma semicircular que possui um telhado dobrado, estendendo-se para formar uma cobertura sobre um espaço de convivência ao ar livre. Existe também um edifício dedicado ao ensino sobre árvores e vegetais, projetado com uma sequência de telhados sobrepostos.

Os telhados foram construídos com madeiras de origem local e foram cobertos por telhas de terracota, fabricadas a partir da queima de cascas de grãos de café. Além disso, pedras de uma pedreira local foram utilizadas nas fundações das estruturas para diminuir a quantidade de concreto necessário.

Cada uma das edificações é conectada a áreas externas voltadas para a agricultura, facilitando a educação prática dos alunos. As instalações possuem ventilação natural e iluminação adequada, com controle da temperatura interna feito por meio da massa térmica dos materiais utilizados.

A energia elétrica do campus é gerada por meio de painéis solares, enquanto a água e os efluentes são tratados através de lagoas de bombeamento, sistemas de filtragem e irrigação apropriados.

Como parte de suas iniciativas, o MASS Design Group desenvolveu medidas para conservar a savana vizinha e reintroduzir espécies nativas na área. Este trabalho faz parte de um esforço para que o instituto estableça uma contribuição positiva ao clima até o ano de 2040, indicando que deverá absorver mais dióxido de carbono da atmosfera do que emissões produzem.