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Cidades Esponja: Solução para a Resiliência Urbana
O Rio Grande do Sul mostrou o impacto avassalador das mudanças climáticas, destacando as consequências devastadoras que podem ocorrer. Infelizmente, o estado brasileiro não é um caso isolado no mundo. Eventos climáticos extremos, como ondas de calor, incêndios florestais, chuvas intensas e enchentes, estão se tornando cada vez mais frequentes em todo o planeta. Diante dessa realidade, a necessidade de combater as causas e consequências da emergência climática é inegável.
Buscando tornar as cidades mais resilientes a esse cenário, o arquiteto chinês Kongjian Yu desenvolveu o conceito de “cidades esponja” como uma solução para prevenir enchentes e preparar áreas urbanas. A ideia principal é utilizar a permeabilidade do solo e a natureza como aliadas. O conceito foi implementado como política nacional na China em 2013, dando prioridade para a construção de infraestruturas naturais de grande escala, como zonas úmidas, vias verdes e parques.
Esse conceito inovador ganhou destaque internacional e recebeu reconhecimento pelo seu potencial de enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Em um mundo onde a mitigação das mudanças climáticas é cada vez mais urgente, Yu defende que a arquitetura paisagística em áreas urbanas deve ter um aspecto funcional, indo além do caráter ornamental tradicional.
Em entrevista ao portal especializado em arquitetura e urbanismo Arch Daily, Yu oferece reflexões importantes e conselhos fundamentais para um planeta em transformação. Ele destaca a importância de uma mudança de mentalidade em relação à paisagem, valorizando sua funcionalidade em um contexto de mudanças climáticas.
A valorização da paisagem funcional
O conceito de cidades esponja aborda o paisagismo para além da ornamentação, valorizando sua funcionalidade e adaptabilidade. Segundo Yu, essa mudança revolucionária na cultura paisagística envolve uma nova forma de representar, avaliar, projetar e transformar a paisagem. Com as mudanças climáticas, surge a necessidade de uma nova cultura paisagística, com uma nova linguagem de interpretação, design, tecnologia de intervenção e até uma nova estética.
Yu destaca que a paisagem é fundamental para todos os processos naturais, sendo uma extensão da superfície global onde ocorrem fenômenos climáticos, atividades humanas e vida em geral. Dessa forma, a arquitetura paisagística desempenha um papel crucial na adaptação, mitigação e transformação social necessárias para enfrentar as mudanças climáticas.
A inspiração na tradição agrícola camponesa chinesa
A “estética agrária” presente nos projetos de Yu foi inspirada na tradição agrícola camponesa chinesa. Ele destaca a importância de observar a história e as técnicas antigas ao projetar uma paisagem, independentemente do tipo de paisagem em questão. A integração harmoniosa entre atividades humanas e processos naturais é essencial para a criação de uma “paisagem profunda”, que busca curar a relação alienada entre humanidade e natureza.
Para Yu, as práticas agrícolas tradicionais dos camponeses, que transformam a paisagem natural para promover o sustento, são fontes inspiradoras de formas profundas. O estudo dessas práticas ancestrais é essencial para o desenvolvimento de soluções baseadas na natureza e uma nova cultura paisagística.
A paisagem como infraestrutura ecológica
Yu enfatiza a importância de entender a paisagem como infraestrutura ecológica, ou seja, como uma infraestrutura baseada na natureza que fornece serviços ecossistêmicos críticos para os cidadãos. Ao recuperar a paisagem como infraestrutura, é possível resolver holisticamente os problemas enfrentados pelas cidades, especialmente em relação às mudanças climáticas.
Isso envolve a implementação de medidas de adaptação, como áreas permeáveis para gestão de águas pluviais e arborização urbana para reduzir o calor, além de estratégias de mitigação, como agricultura urbana, silvicultura urbana e reflorestamento para promover a biodiversidade. Também é importante promover a transformação social, proporcionando espaços para pedestres e ciclistas, incentivando um estilo de vida mais sustentável.
A arquitetura paisagística na era das mudanças climáticas
A arquitetura paisagística desempenha um papel fundamental na era das mudanças climáticas, abordando os três pilares da resiliência climática: adaptação, mitigação e transformação social. Ao alterar a paisagem de forma sensível, é possível adaptar-se e contrariar os processos naturais, além de mitigar os efeitos das mudanças climáticas causados ou amplificados pela intervenção humana.
A importância da nova linguagem paisagística
Yu ressalta que a China e outros países precisam de uma mudança profunda e uma nova linguagem para expressar a relação entre a terra e as pessoas. Essa nova linguagem paisagística é baseada na noção de “pés grandes”, representando formas profundas que se adaptam ao clima e são funcionalmente produtivas e ecológicas. Essa abordagem deve ser acessível a todos, indo além da elite urbana, e deve estar baseada na herança de sobrevivência da natureza.
Enfrentando as enchentes no sul do Brasil
O sul do Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, tem enfrentado desastres causados por enchentes recentemente. Yu aconselha que essas cidades aprendam com as experiências de outras partes do mundo e evitem investir em soluções baseadas em concreto, como barragens e muros, que têm se mostrado ineficientes e incapazes de lidar com as enchentes.
A solução está em investir em soluções baseadas na natureza, como as cidades esponja, que são mais baratas, sustentáveis e holísticas, resolvendo uma série de problemas de forma integrada.
As mudanças climáticas têm causado impactos significativos em todo o mundo. No entanto, é possível enfrentar esses desafios por meio da arquitetura paisagística e do conceito de cidades esponja, que buscam tornar as áreas urbanas mais resilientes e adaptáveis às mudanças. As soluções baseadas na natureza e a transformação da paisagem em infraestrutura ecológica são fundamentais para enfrentar as ameaças das mudanças climáticas e garantir um futuro mais sustentável para as cidades.